Jornalismo repensado

Por Alessandro Lo-Bianco 

 Jornalistas veteranos, em especial os que exercem ou exerceram a chefia de equipes de reportagem, costumam lamentar que os cursos de graduação em jornalismo não sejam capazes de preparar os alunos, de forma satisfatória, para arte da apuração. Se aplicadas a todas as escolas e a todos os estudantes, a afirmação soa evidentemente como um exagero. É bem verdade, no entanto, que o despreparo montado por muitos jovens recém-chegados (e que chegam cada vez mais cedo) às Redações contribui para alimentar a idéia de que não lhes foi dito, nos quatro anos de faculdade, como garimpar a matéria–prima da atividade jornalística, a informação que veiculamos como notícia.

É uma obviedade dizer que não há jornalismo sem ela, mas uma obviedade que talvez precise ser repetida, como um mantra, sob o risco de que se acredite, com base na fartura de exemplos disponíveis na praça, que para fazer jornalismo basta um computador com acesso à internet e um endereço eletrônico apto a receber material de divulgação das assessorias de imprensa.

Nesse mundo paralelo que vem sorrateiramente ocupando o especo do nosso, como se estivéssemos em um romance de ficção científica na qual seres humanos são substituídos por réplicas alienígenas, o trabalho nas redações não se resume a peneirar os releases mais “interessantes” (Ora, a noção de público-alvo serviria para quê, senão para a tarefa de excluir da pauta os press kits inadequados ao leitor?) e, em seguida, a “pôr no tamanho” o material (ou edição, de acordo com a nomenclatura já adotada por aí).

Parece incrícel, mas era possível praticar jornalismo, inclusive no Brasil, antes que houvesse o agressivo processo de alimentação das Redações pelos profissionais que prestam serviços (muitos deles jornalistas formados em Redações, ganhando honestamente o pão de cada dia) a pessoas jurídicas e físicas determinadas (e/ou, em muitos casos, obrigadas) a marcar território na vitrine que a imprensa lhes propicia. Era possível e trabalhoso, pois quase nada caía do colo. Mas sobrevivia-se à imperiosa necessidade de apurar o tempo todo, recorrendo a todos os meios disponíveis, com a vantagem de dormir com a consciência do dever cumprido. Nas melhores casas do ramo, é obrigado lembrar, ainda se sobrevive assim.
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